FRANÇOIS-NICOLAS-MADELAINE
Cardeal Morlot, Paris, 1863
20 – Não sou feliz! A felicidade não foi feita para mim! Exclama geralmente o homem, em toda as posições sociais. Isto prova, meus caros filhos, melhor que todos os raciocínios possíveis, a verdade desta máxima do Eclesiastes: “A felicidade não é deste mundo”. Com efeito, nem a fortuna, nem o poder, nem mesmo a juventude em flor, são condições essenciais da felicidade. Digo mais: nem mesmo a reunião dessas três condições, tão cobiçadas, pois que ouvimos constantemente, no seio das classes privilegiadas, pessoas de todas as idades lamentarem amargamente a sua condição de existência.
Diante
disso, é inconcebível que as classes trabalhadoras invejem com tanta
cobiça a posição dos favorecidos da fortuna. Neste mundo, seja quem for,
cada qual tem a sua parte de trabalho e de miséria, seu quinhão de
sofrimento e desengano. Pelo que é fácil chegar-se à conclusão de que a
Terra é um lugar de provas e de expiações.
Assim,
pois, os que pregam que a Terra é a única morada do homem, e que
somente nela, e numa única existência, lhe é permitido alcançar o mais
elevado grau de felicidade que a sua natureza comporta, iludem-se e
enganam aqueles que os ouvem. Basta lembrar que está demonstrado, por
uma experiência multissecular, que este globo só excepcionalmente reúne
as condições necessárias à felicidade completa do indivíduo.
Num
sentido geral, pode afirmar-se que a felicidade é uma utopia, a cuja
perseguição se lançam as gerações, sucessivamente, sem jamais a
alcançarem. Porque, se o homem sábio é uma raridade neste mundo, o homem
realmente feliz não se encontra com maior facilidade.